Um dos grandes problemas que nós, psicólogos, enfrentamos ao abordar e tratar na clínica estes fenômenos relacionados ao trabalho é que, de certa forma, a sociedade ainda confunde muito os termos e suas origens.
Muitos entusiastas da área de “desenvolvimento humano”, que não têm formação apropriada, acabam ajudando a reforçar alguns estereótipos muito prejudiciais e que, em último caso, acabam por propagar e perpetuar estes problemas. Sim, ao invés de ajudar, atrapalham.
Vou dar um exemplo de como atrapalham: atualmente, a literatura acadêmica já demonstra muito claramente que dentre as grandes causas do estresse e, também, do Burn0ut, estão fatores relacionados ao contexto de trabalho como: natureza das tarefas, sobrecarga de trabalho, ambiguidade de papéis, falta de clareza das responsabilidades, pouco suporte da organização e da liderança, falta de oportunidades de desenvolvimento, entre outros.
Diante deste cenário, fica nítida a necessidade de uma sensibilização e intervenção mais urgentes nas organizações, não somente nos indivíduos.
Dar dicas de como “cada um” pode se cuidar pra não sofrer de Burn0ut, quando estão imersos em contextos altamente propagadores de estresse, além de tirar o foco das causas principais, ajuda a reforçar uma sobrecarga nos trabalhadores que, não bastasse terem de lidar com todos os problemas e preocupações das tarefas do trabalho, ainda precisam se responsabilizar e lutar “sozinhos” contra as sensações que sentem provenientes de um ambiente desajustado. É sofrer duas vezes. É estar desamparado.
O tratamento não passa por lutar sozinho contra o que se sente. São formas rasas e pouco eficazes de lidar com algo mais complexo.
Muito cuidado com os “gurus” e demais “motivadores” das redes sociais. Saúde mental é coisa séria e as organizações devem participar e compartilhar estas preocupações e cuidados. Superar estes problemas passa pelo envolvimento dos diversos atores envolvidos.
Não obstante, a OMS passou, em 2022, a reconhecer o Burn0ut como uma doença do trabalho. O que significa que as empresas passam a ser responsabilizadas por produzir e negligenciar estes quadros, uma vez que, cientificamente, já está comprovada a ligação do trabalho com o desencadeamento da síndrome.
Minha intenção aqui é reforçar que as vítimas desses quadros não devem culpar-se ou pensar que não são suficientemente boas para ocupar os cargos que desejam. A ciência nos diz que os espaços também atuam fortemente como estressores ou não, portanto, o Burn0ut vai bem além de significar apenas uma “fraqueza” do funcionário ou algo do tipo. Essa visão já está ultrapassada, ou deveria estar…